Ela tinha acabado de chegar na sua terra natal. Suas expectativas se restringia aos familiares, aos grandes amigos de infância e as amizades que havia construído em suas passagens. Também havia na memória as vagas lembranças de uma paixão, mas estas eram bem elusivas.
Logo ao colocar o pé na casa de seu pai algo estranho aconteceu. O seu celular tocou, mas era um toque específico. De forma automática, seus neurotransmissores conduziram a informação. A sua longa agenda telefônica, nesse momento, se reduzia a números restritos. Havia apenas duas alternativas. Ela imediatamente desejou ser uma delas e ao mesmo tempo rezou para não ser. Há muito tempo que não ouvia a voz dessa pessoa e por mais que ela fosse uma mulher autêntica e aventureira não convinha a possibilidade de resgatar um sentimento naturalmente fracassado. O mais provável era ser a segunda opção, pois se referia a uma pessoa constantemente atenciosa consigo. Tudo isso aconteceu em fração de segundos e de forma bastante natural. Entretanto, o improvável aconteceu. Era ele: indivíduo que havia feito seu coração palpitar de forma tão harmoniosa e prazerosa por um longo e intenso verão. Mas já era inverno e muitas coisas mudaram. Ela de forma adequada atendeu-o. O carinho que ela tinha por ele era pra vida toda, embora a paixão não tivesse durado mais que duas estações. Em seguida, quis saber sobre sua vida, essa era uma constante quando se referia a ele, pois o desejo de vê-lo bem era mais forte do que o tempo. Do outro lado da linha havia uma voz triste, tímida, receosa e um pouco amedrontada. Ela se preocupou, mas ele disse que estava normal. Isso já era de se esperar, pois ele era homem de poucas palavras e muitas lacunas. Ela de forma madura não insistiu e continuou o diálogo. Talvez este tenha sido bem atípico. De maneira associativa, logo lembrou-a da música "sinal fechado" de Chico Buarque:
– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus! Não esqueço..
– Adeus!
– Adeus!
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus! Não esqueço..
– Adeus!
– Adeus!
A música de Chico talvez represente até um diálogo mais intenso do que o deles. Ele havia ligado com alguma intenção. Qual? Ela se perguntou por algum tempo. Podia ser para pedir desculpa de alguma coisa, ou quem sabe para não perder a amizade, ou...ou. As alternativas aqui são as mais diversas. Ele apenas ligou e rapidamente deixou nas mãos dela a direção da conversa. Ela de forma bastante espontânea conduziu um típico diálogo, contudo não havia uma receptividade de ambas as partes. Simplesmente, ela perguntava e ele respondia de maneira rápida e imprecisa. Não passou de um diálogo vazio, mas ela não suportava mais sua superficialidade e medo. Sua tolerância durou pouquíssimos minutos. Logo, terminou a ligação. O que restou? Apenas suas intermináveis lacunas, mas o passado deixou-a saturada, assim sendo, já não buscava mais respostas para suas tão constantes imprecisões. Ela era uma mulher, entretanto mesmo diante de tanta determinação, o friozinho na barriga após apertar a tecla vermelha de seu celular foi inevitável. Ela vacilou.
By: Mandinha
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